segunda-feira, 27 de maio de 2013

Derrubando paredes na sala de aula...

Com ajuda da tecnologia e dos pais dos alunos, escolas brasileiras estão criando projetos sem divisão entre salas, turmas e séries


"É uma escola diferente. Para os pais, para os educadores e, principalmente, para as crianças." É assim que a diretora Ana Elisa Siqueira define a Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, que fica no Butantã, Zona Oeste de São Paulo. Os alunos não sentam em fileiras, só tem aulas no quadro-negro de vez em quando, e estudam em grandes salões   – as paredes que separavam as antigas salas foram derrubadas. Sem provas, as próprias crianças escolhem a ordem dos roteiros que irão estudar. No currículo, além de geografia, matemática, história, português, ciências e inglês, tem ainda dança, música, capoeira, circo, e até grego e latim.
O projeto começou a ser estudado e implantado há 11 anos, depois que, ansiosos por mudanças, pais e funcionários viram um vídeo da Escola da Ponte, de Portugal – que foi idealizada pelo educador José Pacheco há mais de 30 anos e se tornou referência internacional. O que chamou a atenção de todos foi a autonomia das crianças na construção do processo educacional. E aí que tudo começou. Com muita participação dos pais.Cada um ajuda como pode, através das comissões que são formadas pelo Conselho de Escola. A jornalista Márcia Carini, mãe do Loretto e do Arrigo, faz parte da comissão de comunicação, e, por conta própria, criou a fanpage da escola no Facebook. Ela ainda faz a atualização do site com outras mães. A professora de inglês Kimberly Cober, mãe do Caíque e da Tarsila, é da comissão de festas e eventos. Para as duas, a autonomia das crianças e a vontade de aprender é o maior ganho de quem estuda lá. “Ali, todo mundo tem voz”, garante Kimberly. “O poder de participação e coletividade é muito grande”, acrescenta Márcia.Gabriela, de 11 anos, filha da Nilse, que faz parte da comissão de nutrição, e do Edson, sempre estudou nessa escola e diz que adora o método diferente. “A gente faz muito barulho, mas aprende”, contou, enquanto nos mostrava orgulhosa cada detalhe do espaço: o refeitório, a biblioteca, os grandes salões, a oca. Isso mesmo, uma oca! Durante um roteiro cultural, um intercâmbio foi feito com uma tribo indígena que, na presença do cacique, construiu um espaço onde hoje são feitas oficinas.
Também sem fileiras, divisão de salas e de turmas é o projeto Gente (Ginásio Experimental e Novas Tecnologias), que foi implantado no começo deste ano na Escola Municipal André Urani, que fica na Rocinha, no Rio de Janeiro. O espaço da escola foi totalmente reformulado para comportar essa nova proposta, onde o processo de aprendizagem é personalizado para a necessidade de cada aluno.  Os jovens são agrupados em equipes, chamadas de “famílias”, e cada um recebe um itinerário, com o que precisa aprender a cada semana. Depois de decidirem a ordem do que querem fazer, primeiro os alunos tentam resolver as dúvidas entre si. Então, o segundo recurso é um professor-mentor, e o terceiro um professor virtual. A tecnologia, portanto, tem papel fundamental, já que muitas atividades são feitas com o auxílio de computadores, tablets e celulares, como as do site Educopédia (educopedia.com.br).
Os alunos também participam de aulas de artes, teatro, dança, e as tecnológicas, como robótica e mecatrônica. Com suas “famílias”, eles também desenvolvem um projeto semestral, que faz a conclusão de tudo que aprenderam. “O papel do professor é mediar as atividades e ensinar aos alunos a arte de aprender qualquer coisa com autonomia, formando cidadãos solidários e competentes”, explica Rafael Parente, filho de Pedro e Maria Luce, e subsecretário de novas tecnologias educacionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Segundo ele, a ideia é que o projeto seja aplicado ainda em outras escolas da cidade, já que o modelo velho de escola não motiva os alunos e não atinge os melhores resultados. No mesmo caminho, seguem outras escolas no país, tanto na rede pública quanto na privada. É o caso das escolas de São Paulo Lumiar (particular) e a Escola Municipal Presidente Campos Salles, localizada na Favela de Heliópolis. “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas”, diz o educador, escritor e psicanalista Rubem Alves. Derrubando paredes e conseguindo maior participação dos pais e da comunidade, essas escolas estão querendo –e conseguindo– ser asas.

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