Você saberia responder, sem pestanejar, o que é felicidade? Existem
teorias que afirmam: a felicidade é uma enganação criada pelo psiquismo
humano para garantir a sobrevivência da espécie. Por isso a queremos a
qualquer preço, sem saber exatamente do que se trata.
Os primeiros a tentar explicar a felicidade foram os antigos
filósofos gregos. Para os epicuristas, por exemplo, o homem só
conseguiria ser feliz se deixasse de lado as preocupações com o destino
e as angústias em relação à morte e fosse em busca do prazer e da
contemplação do belo, que deveria ser o objetivo principal de cada ação
humana.
Fórmula simplificada
Depois dos filósofos, vieram os sociólogos, antropólogos,
psicólogos, neurocientistas aos quais se juntaram até publicitários e
marqueteiros, na tentativa de explicar o que é ser feliz (ou de
explorar essa dúvida para convencer o outro de que o segredo da
felicidade está em ter isso ou ser aquilo).
"A ideia de felicidade muda de acordo com a época. Na Roma
Antiga, só era possível ser feliz se houvesse liberdade. Um escravo,
então, jamais poderia sonhar com ela. Já para o homem contemporâneo,
ela está ligada a outras questões, como ter a possibilidade de realizar
seus desejos", explica Dulce Critelli, terapeuta existencial e
professora de Filosofia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo).
problema é que dentro da ideia "felicidade é poder ter" cabe
tudo. Ou quase tudo. O homem contemporâneo, em especial o mais jovem,
acredita que será plenamente feliz quando tiver um excelente salário,
um casamento harmonioso, um ou dois filhos bonitos, saudáveis e
educados. E que esse pacote venha acompanhado de muito sucesso na
carreira.
"Nas sociedades modernas ocidentais, o sucesso profissional
é uma dos índices usados para medir o grau de felicidade, que deve ser
diretamente proporcional ao tamanho das conquistas", afirma a terapeuta
existencial. Ou seja, quanto mais sucesso, mais feliz a pessoa deve
ser. Mas, no dia a dia, a prática não comprova a teoria. Nem sempre
quem consegue conquistar o que sonhou consegue se sentir plenamente
feliz.
"A construção do conceito do que é felicidade tem a ver com a
história de cada um, de como cada pessoa aprendeu a lidar as
dificuldades da vida", diz Ana Mercês Bahia Bock, psicóloga, professora
de Psicologia Social da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo).
De acordo com Ana, existem pessoas marcadas pela coragem, que enfrentam
as maiores dificuldades, mas não desanimam. Em geral, estas se
consideram felizes, ainda que estejam passando por momentos difíceis,
com graves situações financeiras ou a morte de uma pessoa querida.
Outras, entretanto, desenvolvem, ao longo da vida, baixa resistência às
frustrações o que, não raro, gera dificuldades em lidar com as perdas,
não importa se é o furto do carro 0 Km ou apenas um pneu furado que
atrasou o sujeito para uma reunião nem tão importante.
"É comum que o medo permanente de perdas que aflige as pessoas desse
tipo as impeça de aproveitarem suas conquistas, pois ela sempre estarão
imaginando qual vai ser o próximo prejuízo que sofrerão", afirma Ana
Bock.
Isso quer dizer que dá perfeitamente para você estar feliz porque
recebeu um aumento, ainda que não se sinta plenamente satisfeito com o
seu trabalho e não seja reconhecido pelo seu chefe. Como também é
possível sofrer porque ainda não teve dinheiro para conhecer Paris, mas
no balanço geral, sentir-se satisfeito por tudo o que conquistou até
agora. Resumindo: ninguém é feliz o tempo todo nem em todos os aspectos
da vida. O conceito de felicidade eterna e plena é uma enganação.
A grama do vizinho é sempre mais verde
Se existe uma questão que atrapalha a busca pela felicidade é o
desequilíbrio entre o que se deseja e o que é possível de ser
realizado. O resultado da equação malfeita, em geral, é frustração.
"Toda infelicidade é resultado da diferença entre o que quero e o que
tenho", explica o economista-filósofo Eduardo Gianetti.
Para ele, é necessário adequar o plano de voo de acordo com o
tamanho das asas. O que significa dizer: pode sonhar, sim, mas dentro
de suas possibilidades. Se depois de anos de casada, por exemplo, você
descobriu que seu marido não era exatamente o príncipe encantado com o
qual sonhou, não precisa se sentir infeliz só por isso. Ele pode ser um
excelente sujeito, que faz de tudo pela família. Então, aproveite. Não
é todo mundo que tem a mesma sorte.
É importante, também,
evitar comparações.
Nem sempre é fácil ser feliz sabendo que o vizinho troca de carro a
cada lançamento enquanto o máximo que dá para comprar é um seminovo.
"Fazer comparações é da natureza humana. O que mudou com a tecnologia
foram as referências", diz Gianetti.
Se antes a comparação era feita com alguém do mesmo grupo, o
vizinho, por exemplo, hoje, com o avanço tecnológico, a disputa é com
as imagens, seja da televisão, das revistas, ou da internet (basta dar
uma olhada rápida na sua "timeline" do Facebook para achar que todo
mundo tem uma vida bem mais interessante). A melhor saída para escapar
da armadilha das comparações é aproveitar mais a beleza do seu jardim
sem se preocupar com a grama –ou o álbum de fotos no Facebook– do
vizinho.
Fonte: http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2012/10/18/alcancar-a-felicidade-e-mais-dificil-para-quem-sonha-com-o-impossivel-e-teme-perdas.htm