domingo, 18 de novembro de 2012

A boa...


É fato que entre a época das minhas avós e a minha, representações e comportamentos do "feminino" passaram e passam por notáveis transformações. Haja vista que hoje temos uma presidenta da República. O chefe do país é uma chefa.

No entanto algo continua igualzinho ao tempo das minhas avós. Ainda se espera que a mulher seja boa em tudo o que faz. Isto é: ela deve ser boa filha, boa aluna, boa mãe, boa companheira, boa ex-companheira, boa gerente, boa subordinada.

Espera-se que uma mulher não seja só uma médica, ela tem que ser uma ótima médica. Não é suficiente ser aluna do curso de engenharia, ela tem que ser uma excelente aluna. Nas alturas então, pouco importa que ela seja uma entre quinhentos pilotos, terá que ser uma super pilota.

Motorista de busão? Igual. Sabe por que ela foi contratada? Porque foi de longe a melhor nos testes. Até mesmo no mundo da fantasia infantil, as mulheres precisam ser princesas lindas e perfeitas, ou então serviçais muito boazinhas. Caso contrário elas são bruxas. Cheias de verrugas no rosto e pelos nas ventas.
Já o bruxo masculino se confunde com o mago ou sábio. Por exemplo, muita gente chama o estupendo escritor Machado de Assis (1839-1908) de o bruxo. Bruxo, nesse caso, significa o grandioso, o mágico das palavras.

Mas vai alguém chamar a também estupenda escritora Clarice Lispector (1920-1977) de a bruxa. Só se for para desclassificá-la. Deve ser por conta disso que muitas mulheres - que não eram boas filhas, nem boas mães, nem boas esposas - foram denominadas bruxas, e queimadas vivas nas fogueiras da Idade Média.
Voltando para o tempo presente, a constante expectativa da mulher ser boa em tudo é motivo de angústia e de estresse, ao menos para ela. Pois, igual aos coleguinhas do sexo oposto, as mulheres variam. São boas em algumas coisas e sofríveis em outras.

Da mesma maneira que os homens não querem e não precisam ser super-heróis, nem maravilhosos pais, maridos, profissionais. Nós, as mulheres, não precisamos e nem queremos a infernal obrigação de ser boas em tudo.

iPhonografia: Régine Ferrandis, de Paris.

Fonte:  http://br.noticias.yahoo.com/blogs/mente-aberta/boa-143036743.html

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