
Numa relação amorosa é comum
haver discussões, afinal, quando não se está de acordo com alguém argumentar,
mesmo de forma veemente, é um modo de reconhecer o outro, de levar em conta que
ele existe. Na violência, ao contrário, o outro é impedido de se expressar, não
existe diálogo. A agressão física não acontece de uma hora para outra. Tudo tem
início muito antes dos empurrões e dos golpes. Um olhar de desprezo, uma
ironia, uma intimidação, são pequenas violências que vão minando a autoestima
da mulher.
Antes do primeiro tapa as
mulheres devem reagir à violência verbal e psicológica. Para isso é essencial
que elas aprendam a perceber os primeiros sinais de violência para encontrar em
si mesmas a força para sair de uma situação abusiva. Compreender por que se
tolera um comportamento intolerável é também compreender como se pode sair
dele.
Não é nada fácil para o homem
corresponder ao ideal masculino que a sociedade patriarcal lhe exige. Homens e
mulheres têm as mesmas necessidades psicológicas — trocar afeto, expressar
emoções, criar vínculos. A questão é que perseguir esse ideal impede a
satisfação das necessidades, e a impossibilidade de alcançá-lo gera frustração.
Está aberto o espaço para a violência masculina no dia-a-dia. Essa ideia se
confirma quando os estudos mostram que a violência contra as mulheres não é a
mesma em todos os lugares. É muito maior onde se cultua o mito da
masculinidade.
É interessante observar que não
há necessidade do uso da força para subjugar o outro; meios sutis, repetitivos,
velados, ambíguos podem ser empregados com igual eficácia. Atos ou palavras
desse tipo são muitas vezes mais perniciosos que uma agressão direta, que seria
reconhecida como tal e levaria a uma reação de defesa.
A psicanalista francesa
Marie-France Hirigoyen, que pesquisou bastante o tema, faz uma severa crítica
aos psicanalistas que consideram que as mulheres que permanecem na relação
experimentam uma satisfação de ordem masoquista em ser objeto de sevícias. “É
preciso que esse discurso alienante cesse, pois, sem uma preparação psicológica
destinada a submetê-la, mulher alguma aceitaria os abusos psicológicos e muito
menos a violência física.”
Fonte:
http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2013/03/02/violencia-dentro-de-casa/
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