Até bem pouco tempo as fronteiras
entre o que era público ou privado estavam claramente estabelecidas, até mesmo
por barreiras físicas: os muros de nossas casas.
Cada pessoa sabia quais eram as
regras, os riscos, as expectativas, bem como os comportamentos esperados na
esfera pública e cada um sabia que, dentro das paredes da sua casa, do seu
quarto, esses padrões podiam ser mudados. Obviamente, sempre existiram aqueles
que não obedeceram a esses padrões, mas, nesses casos, era evidente a rebeldia
ou a excentricidade envolvida nessa atitude. Por exemplo, quando um filho
estava na rua, sua mãe sabia exatamente com o que deveria se preocupar: onde
ele estaria, com quem, a que horas voltaria. Quando esse filho voltava para a
casa, a sensação de tranquilidade e segurança eram imediatas: “agora sei com
quem ele está e onde”.
Com o surgimento da internet e
sua imensa popularização, essas fronteiras foram e estão sendo questionadas,
reposicionadas ou até mesmo derrubadas! Hoje em dia, essa mesma mãe pode ver
seu filho dentro das paredes de seu quarto, supostamente em segurança e sob sua
supervisão, mas ele está navegando e, se está navegando, está em um espaço
PÚBLICO.
Boa parte dos pedidos de
orientações que recebemos (contendo temas ligados ao uso da internet) em algum
sentido se relaciona com os problemas gerados por essa confusão entre o público
e o privado inaugurada recentemente: mães pedem orientação para seus filhos,
pessoas com problemas de exposição nas redes sociais, casais confusos quanto
aos limites da chamada traição virtual, entre outros.
Claro que cada tema tem sua
especificidade e cada caso em particular, também. Entretanto, se entendermos a
internet (redes sociais, youtube, sites, twitter, etc.) como um espaço público,
como se estivéssemos na rua, numa reunião ou numa festa, essa visão nos ajudará
a estabelecer nossos próprios limites bem como as regras a serem seguidas nas
nossas relações (com nossos filhos, cônjuges ou conosco mesmos).
Desse modo, ainda que
resolvêssemos transgredir esses limites, não seria por confusão, mas por
“rebeldia”. A ideia é que a pessoa só se exponha na medida em que suporte as
consequências dessa exposição.
Pensar assim pode parecer
angustiante e trabalhoso, uma vez que já estamos acostumados a nos sentir
“soltos” e “livres” na condição online. Entretanto, a liberdade na net não deve
ser a liberdade do “posso tudo”, mas precisa ser entendida exatamente da mesma
forma que a liberdade experimentada na vida em geral: aquela que é vivida com
responsabilidade, respeito e democracia.
Por falar em democracia, não
podia deixar de lembrar, depois do ano de 2011, um aspecto incrível permitido
pela mesma quebra de barreiras entre o público e o privado: a possibilidade de
democratização de países “fechados”. A chamada Primavera Árabe foi desencadeada
nas redes sociais exatamente por serem elas espaços públicos instalados dentro
de nossas casas. Nenhum de nós precisou sair de nossas casas e ir fisicamente a
nenhum outro país para trocar experiências, possibilidades, ideais de liberdade
e de uma vida diferente. Não é à toa que todos os regimes não democráticos
lutam pelo controle da internet!
A internet é uma ferramenta muito
poderosa! Então, faço minhas as palavras famosas do filme O Homem Aranha I
(Dir: Sam Raimi, EUA-2002) : “Com grandes poderes, vêm grandes
responsabilidades”. Vamos usar a WEB com responsabilidade e tirar dela todas as
maravilhas que pode nos proporcionar.
Fonte: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/cyberpsicologia_midias_sociais.htm
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