Do choro inaugural ao último suspiro, a vida é pródiga em possibilidades. Casarás ou não casarás. Terás dinheiro ou viverás duro. Votarás no PT ou no PSDB. Conhecerás mais sucessos do que fracassos. Fracassarás mais do que terás sucesso. Serás mais medroso do que valente. Mais corajoso do que medroso. Ou mistures tudo, mandando o maniqueísmo e os mandamentos às favas.
Ao mesmo tempo, todo mundo é muito de cada coisa e um pouco de tudo. Por sinal, a imensa graça da vida está no inesperado dos caminhos, nas curvas - e não nas retas - do destino. Nascemos com tendências, mas nunca predestinados. Assim, um retirante se torna presidente da República. Um privilegiado destinado à glória perde tudo.
Mas também é fato que ninguém nasce folha em branco. Mesmo na barriga da mãe já temos uma história. Somos seres enraizados. A máxima: ninguém sabe para aonde irá, mas sabemos de onde viemos. Eu, por exemplo, vivo em Sampa, nasci no Rio de Janeiro, sou filha de uma gaúcha e de um cearense. Não faço ideia em qual cidade morrerei.
Trocando em miúdos: vivo apressada, me arrepio ao som de escolas de samba, me comovo com jangadas do Mucuripe impulsionadas pelo vento minuano dos pampas. Ser filha de uma mulher do sul e de um homem do nordeste me enche de orgulho. Duas pontas de um Brasil plural.
No meio disso, o Rio de Janeiro. Quando eu nasci, a cidade era a Capital Federal. Havia nariz empinado por tanta beleza e vaidade nas ventas de ser o centro dos acontecimentos. Em 1960, com a inauguração de Brasília, o Rio teve que se reinventar. Parecido com várias reinvenções que sacodem a vida da gente.
Certa vez li - não lembro se escrita por um poeta, ou por uma filósofa - uma frase marcante: “Se você reconhece e ama suas próprias raízes, será capaz de respeitar as raízes dos outros”. O que no fundo é igual a dizer: Conhece-te a ti mesmo e saberás do outro.
O reconhecimento das origens leva ao pertencimento. O que nada mais é do que se sentir confortável com os antepassados. Pouco importa se o bisavô viveu num quilombo, se a bisavó nasceu na outra margem do Atlântico.
Importa amar de quem viemos. A natureza nos ajuda a enxergar e compreender a importância das raízes. Quanto mais vigorosas são, maior e mais forte é a árvore. Para voar alto e livre é preciso ter um terreno firme de onde decolar.
Imagem: Régine Ferrandis
Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mente-aberta/de-quem-voce-e-083955639.html
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