sábado, 9 de novembro de 2013

Desespero por estar sozinha

Comentando o “Se eu fosse você''

A questão da semana é o caso de Mariana, que está desesperada por ter sido abandonada pelo marido e pela crença de que não saberá viver sozinha.
A história dela é igual a de muitas pessoas que, ao encontrar um parceiro, o transformam em única fonte de interesse. A questão é que no Ocidente somos incentivados, desde muito cedo, a acreditar que só é possível ser feliz se tivermos alguém ao nosso lado. Da mesma forma como a criança pequena se desespera com a ausência da mãe, o adulto, ao perder o objeto de amor, é invadido por uma sensação de falta e de solidão.
Além disso, quando fracassa um projeto amoroso, a pessoa perde o referencial na vida e sua autoestima fica abalada. Entretanto, se as crianças fossem ensinadas a enxergar as coisas como elas são, quando ficassem adultas saberiam que, na maior parte das vezes, as relações amorosas duram apenas um tempo, sem significar fracasso de alguma das partes.
Nem sempre o parceiro satisfaz ou preenche as necessidades afetivas e sexuais do outro, mas isso não é levado em conta. A separação é dolorosa porque impõe o rompimento com a fantasia do par amoroso idealizado, além de abalar a autoestima e exacerbar as inseguranças pessoais. A ideia de felicidade através do amor no casamento influi diretamente na intensidade da dor na separação.
A crença de que o casamento é o único meio de realização amorosa e de que é possível uma complementação total entre duas pessoas, é um equívoco extremamente nocivo. Favorece a simbiose, sobrecarregando marido e mulher como depositários das projeções e exigências afetivas do outro. Sem contar que o ressentimento e o ódio na separação são causados pela constatação de que, ao ir embora, o parceiro frustrou essa expectativa de complementação.
Tudo poderia ser bem diferente. A questão é que, em quase todos os casamentos, as pessoas abrem mão da liberdade, da independência — incluindo aí amigos e interesses pessoais — e por isso se tornam frágeis em caso de ruptura.
Alguns se desesperam durante e após a separação. Podem apresentar um quadro de profunda depressão e em casos extremos até tentar suicídio. Mas, ao contrário do que possa parecer, isso não significa necessariamente que havia um grande amor.
É comum, nesses casos, o outro nem significar tanto, mas sua falta ser sentida de forma dramática por reeditar vivências de perdas anteriores. Não se chora somente a separação daquele momento, mas também todas as situações de desamparo vividas algum dia e que ficaram inconscientes.

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