sexta-feira, 19 de abril de 2013

Continuar uma relação por pena faz mal para você e seu par


A advogada mineira Juliana*, de 28 anos, namorava um colega de faculdade há três anos quando percebeu que a paixão havia acabado. A vontade de curtir com as amigas era cada vez maior e o grude do namorado, antes bem-vindo, passou a ser sufocante. "Parecia que a gente era um só: ele usava o meu e-mail para mandar e receber os artigos que precisava e ainda ia para a minha casa no fim de semana para estudar porque, lógico, estava tudo salvo no meu computador". Ela estava decidida a terminar, mas havia um problema. 

O namorado estava prestes a enfrentar uma banca difícil para a apresentação do trabalho final da graduação. "Ele estava quase surtando de medo", conta a advogada. "E, como os arquivos dele estavam salvos na minha máquina, essa parte prática também me assustava: como é que eu ia deixar o menino sem namorada, sem e-mail e sem computador?", perguntava-se. Juliana resolveu segurar a onda. "Monografia apresentada, achei que seria mais fácil, que ele perceberia que o namoro era morno", diz. Mas isso não aconteceu. Depois da formatura vieram uma prova de mestrado, duas trocas de emprego... "E eu esperando o momento certo", conta Juliana. Até que, após dez meses de adiamento, ela terminou tudo quando faltavam três semanas para ele fazer a segunda prova de mestrado –na primeira, ele não havia passado. Pode parecer cruel, mas a atitude de Juliana é, em muitos casos, a mais aconselhada pelos especialistas. 

"Em um relacionamento por pena, você fica sem vontade e não oferece ao outro o carinho que ele merece. O resultado a médio prazo é mais dolorido", afirma Ailton Amélio, psicólogo da USP e autor de um blog sobre relacionamentos no UOL.

O psicólogo da PUC-SP Antônio Carlos Pereira lembra que a dor é tão parte do namoro quanto o prazer. Para ele, tudo bem esperar o momento crítico passar e adiar um pouco um término. Um pouco. "A pessoa pode até pensar: "não vou estragar a festa'. Mas depois da festa tem que falar", diz. Ele ressalta que, para fazer o outro feliz, é preciso pensar também na própria satisfação. "Se o namoro não está bom, é ruim para você e para o parceiro".    Para dar certo no final   É natural não querer fazer mal a alguém de quem se gosta –a paixão acabou mas aquela pessoa não deixa de ser querida ou não merece consideração. "Um mínimo de respeito, compaixão e preocupação é importante. Afinal, aquela relação durou até ali", diz Rosa Macedo, psicóloga da PUC-SP. 

A questão é encontrar a melhor maneira de terminar um relacionamento que se mantém por dó ou por simples cuidado com quem você já amou. A estudante de direito Laura*, de 22 anos, precisou viajar para conseguir terminar com um colega que namorava há um ano e dois meses. Ela arrastou o relacionamento por sete meses, porque sempre que tentava se afastar,  o "ex" entrava em desespero. "Em uma das vezes, ele ameaçou se jogar do carro. Na outra, começou a bater a cabeça na parede", conta. Quando precisou ficar duas semanas afastada e praticamente incomunicável, a estudante tomou coragem. O namorado chorou muito, mas finalmente procurou ajuda psicológica. Hoje, os dois estão em outros relacionamentos.   "Adiar nem sempre é bom para o parceiro. Muita gente não termina e acaba empatando a vida da outra pessoa", diz Ailton Amélio. 

"Em algumas situações, há um pouco de manipulação do parceiro", afirma Antônio Carlos. "Que relacionamento é esse que o namorado ameaça suicídio em caso de rompimento?", questiona. Para Ailton Amélio, o drama do término também pode ser um pouco de fantasia de quem quer por um ponto final na relação. "As pessoas exageram no que se imagina que vai ser o sofrimento do outro", diz.   Às vezes, é bom esperar   Para aqueles que se deparam com o sofrimento do parceiro pela perda de um ente querido, por exemplo, é recomendável esperar. "É preciso dar um tempo antes do rompimento, para a pessoa digerir um pouco o que aconteceu", diz Antônio Carlos. O cuidado aqui é não deixar esse período se estender demais. Após alguns meses, a pessoa já estará pronta para lidar com o término. "Só que tem que ser feito de forma pensada, não pode ser impulsivo", diz o psicólogo.   

De acordo com ele, o momento certo é quando o parceiro se mostra capaz de conversar sobre outros assuntos que não aquela perda. "Vai ser dolorido? Sem dúvida. Mas é melhor ser sincero do que alimentar uma ilusão", afirma Antônio Carlos. "O outro sobrevive, às vezes, até melhor. O sofrimento faz parte do aprendizado", completa.   

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