"Psicopatas que chegam ao
topo (por causa desse mix de “qualidades e talentos”) são incontroláveis e
costumam causar muitos estragos, porque veem que a estupidez da sociedade os
colocou no trono, no topo da cadeia alimentar,
embora saibam que no fundo são apenas boas falsificações"
Vivemos numa sociedade que faz
reverência aos fortes e abomina os fracos. Por isso, se busca de forma tão
alucinada símbolos de poder, qualquer coisa que emane uma aura de vencedor, de
estar por cima da carne seca.
Nas empresas valoriza-se
sobremaneira os indivíduos pró-ativos, confiantes, que olham nos olhos e muitas
vezes defendem suas ideias (mesmo as mais estúpidas) com valentia e até
agressividade.
Confiança, assertividade, foco,
determinação, resiliência (cabacidade de auto superação) são palavras cada vez
mais sacrossantas em várias áreas de nossa sociedade.
Conheci uma mulher que tornou-se
minha cliente por algum tempo, até que se detectasse um desequilíbrio mental.
Pude acompanhar suas crises de profunda depressão, onde precisava ser vigiada
24 horas pelo risco de cometer suicídio. Mas quando os polos se invertiam, ela
aparecia eufórica, confiante, dona do mundo: a toda poderosa.
Uma vez fomos a uma reunião com
outras pessoas influentes quando ela estava no modo eufórico. Vi as pessoas
sendo seduzidas e dominadas pela sua “luz”, sua assertividade, sua confiança
“absoluta” naquilo que estava falando e propondo. Convenceu a todos.
Claro que a última atitude da
família foi interditá-la e tirar-lhe os cartões de crédito e talões de cheque.
Mas nem só de bipolares vivem os
grandes confiantes. Psicopatas são pessoas fortes, assertivas, autoconfiantes,
controladoras, do tipo que chega e diz: “Deixa comigo que eu cuido de tudo”. Ou
pior “Confie em mim, eu resolvo.”
Psicopatas são doentes "sem
doença". Não existe exame clínico para detectar a psicopatia. Eles não são disfuncionais, estudam,
trabalham, se casam e pelo seu caráter extremamente egocêntrico e sem freios
morais ou emocionais costumam prosperar.
Hoje ser assertivo, ou seja, ter
coragem de dizer não na cara do outro, virou uma grande qualidade, essa os
psicopatas tiram de letra. Não: é a palavra que sai de sua boca sem rédeas e
com certo prazer sádico.
Psicopatas que chegam ao topo
(por causa desse mix de “qualidades e talentos”) são incontroláveis e costumam
causar muitos estragos, porque veem que a estupidez da sociedade os colocou no
trono, no topo da cadeia alimentar,
embora saibam que no fundo são apenas boas falsificações.
Na vida corporativa, como na
política, pessoas afáveis, sensatas, ponderadas ou - defeito mortal - tímidas
são subvalorizadas, são vistas como fracamente motivadas, não comprometidas com
o time.
Empresas costumam promover e aplaudir os “feitores”, aqueles
que quando o chefe grita: “Mata!” Eles "apertam o gatilho" sem pensar
duas vezes.
Além disso existe outro fator
comum nos psicopatas e bipolares em suas fase de euforia delirante: a
facilidade para criar e vender falsificações da realidade ou em português
mais reto mentir.
Um filósofo moderno John Gray em
seu livro Cachorros de Palha, afirma que quem mente de forma eficaz e sem problemas
e consciência tem uma vantagem evolutiva sobre quem não mente e segue os
pedregulhos os caminhos da verdade. Mentir sem remorso turbina currículo,
derruba oponentes, ganha corridas e libera o indivíduo para fazer de tudo.
Para o psicopata mentiroso,
principalmente se estiver em alguma posição de poder, com o combustível extra
da mentira, o céu é o limite. Aí alguém pode dizer: mas mentira tem perna curta
e muitos são pegos e punidos. Eu digo: para cada mentiroso (incompetente) que é
punido existe 10 que se dão bem. Recentemente, um chefe de polícia declarou que
sua polícia era muito competente sim, porque no ano passado esclareceu 23% dos
crimes. Ou seja, 73% de burladores da
lei, psicopatas, sociopatas e cia, estão por aí felizes da vida continuando a
mentir e a delinquir convencidos pela pura realidade de que o crime compensa! E
não compensa?
Líderes que foram endeusados por
sua autoconfiança, trouxeram mais desgraça e sofrimento ao mundo humano do que
possamos sequer imaginar.
Precisamos rever nossos valores.
Estamos criando e nutrindo uma supergeração de super psicopatas, doentes
emocionais sem precedentes.
Para terminar, uma história real
registrada nos anais da história oficial, que ilustra perfeitamente a minha
tese neste artigo:
“Em 1839 o vice-almirante George
Tyron comandante da marinha britânica no Mediterrâneo, resolveu assumir sozinho
o comando das manobras navais de verão. Ao ordenar a meia volta de duas colunas
paralelas de navios, seus oficiais tentaram alertá-lo sobre a possibilidade de
colisão. Um simples cálculo demonstraria que a combinação de dois círculos que
os navios iriam fazer era maior que a distância entre eles. Enquanto seus oficiais observavam
horrorizados seu navio, o Victoria foi abalroado pelo Camperdown. Tyron se
recusou a acreditar que o dano causado fosse sério e ordenou que os navios
próximos não enviassem botes salva-vidas. O Victoria afundou levando ele e mais
357 marinheiros.” Citado por Margaret Macmillan em seu excelente Usos e abusos
da história (Ed. Record).
Fonte:
http://www2.uol.com.br/vyaestelar/outrolado_psicopatas.htm