quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Quando os filhos voam...

Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem a proteção do ninho. Eu mesmo sempre os empurrei para fora.Sei que é inevitável que eles voem em todas as direções como andorinhas adoidadas.
Sei que é inevitável que eles construam seus próprios ninhos e eu fique como o ninho abandonado no alto da palmeira...

Mas, o que eu queria, mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo...

Existem muitos jeitos de voar. Até mesmo o vôo dos filhos ocorre por etapas. O desmame, os primeiros passos, o primeiro dia na escola, a primeira dormida fora de casa, a primeira viagem...
Desde o nascimento de nossos filhos temos a oportunidade de aprender sobre esse estranho movimento de ir e vir, segurar e soltar, acolher e libertar. Nem sempre percebemos que esses momentos tão singelos são pequenos ensinamentos sobre o exercício da liberdade.

Mas chega um momento em que a realidade bate à porta e escancara novas verdades difíceis de encarar. É o grito da independência, a força da vida em movimento, o poder do tempo que tudo transforma.
É quando nos damos conta de que nossos filhos cresceram e apesar de insistirmos em ocupar o lugar de destaque, eles sentem urgência de conquistar o mundo longe de nós.
É chegado então o tempo de recolher nossas asas. Aprender a abraçar à distância, comemorar vitórias das quais não participamos diretamente, apoiar decisões que caminham para longe. Isso é amor.
Muitas vezes, confundimos amor com dependência. Sentimos erroneamente que se nossos filhos voarem livres não nos amarão mais. Criamos situações desnecessárias para mostrar o quanto somos imprescindíveis. Fazemos questão de apontar alguma situação que demande um conselho ou uma orientação nossa, porque no fundo o que precisamos é sentir que ainda somos amados.

Muitas vezes confundimos amor com segurança. Por excesso de zelo ou proteção cortamos as asas de nossos filhos. Impedimos que eles busquem respostas próprias e vivam seus sonhos em vez dos nossos. Temos tanta certeza de que sabemos mais do que eles, que o porto seguro vira uma âncora que impede-os de navegar nas ondas de seu próprio destino.
Muitas vezes confundimos amor com apego. Ansiamos por congelar o tempo que tudo transforma. Ficamos grudados no medo de perder, evitando assim o fluxo natural da vida. Respiramos menos, pois não cabem em nosso corpo os ventos da mudança.

Aprendo que o amor nada tem a ver com apego, segurança ou dependência, embora tantas vezes eu me confunda. Não adianta querer que seja diferente: o amor é alado.
Aprendo que a vida é feita de constantes mortes cotidianas, lambuzadas de sabor doce e amargo. Cada fim venta um começo. Cada ponto final abre espaço para uma nova frase.
Aprendo que tudo passa menos o movimento. É nele que podemos pousar nosso descanso e nossa fé, porque ele é eterno.

Aprendo que existe uma criança em mim que ao ver meus filhos crescidos, se assustam por não saber o que fazer. Mas é muito melhor ser livre do que imprescindível.
Aprendo que é preciso ter coragem para voar e deixar voar.
E não há estrada mais bela do que essa.

Esse fds fiquei emocionada e surpreendida com o pedido de casamento da minha filha.. isso me fez refletir sobre 

esse momento da minha vida, divido com os amigos.




Fonte: Quando os filhos voam, por Rubem Alves


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A dor da separação

A grande maioria das pessoas que responderam à enquete da semana acredita ser impossível separar sem sofrer. Colocar um ponto final num relacionamento é tão doloroso, que muitos consideram o sofrimento comparável em intensidade à dor provocada pela morte de uma pessoa querida. Contudo, de um jeito simples ou complicado, com raiva ou tranquilidade, o fato é que em todas as partes do mundo as pessoas se divorciam. E ao contrário da nossa cultura, que, em muitos casos, faz do divórcio um drama, alguns povos encaram com naturalidade a dissolução do casamento. 

Entre os apaches o divórcio ocorria quando a esposa punha as roupas do marido fora de casa, sinal para ele retornar à mãe; ou então ele dizia que ia caçar e não voltava. E chegamos ao extremo, na velha China, onde uma lei permitia ao homem se divorciar da esposa tagarela. A separação inicia seu processo lentamente, na maior parte das vezes de forma inconsciente. A relação vai se desgastando e a vida cotidiana do casal deixa de proporcionar prazer. Aos poucos, o desencanto se instala. 

Chegar a perceber que o casamento traz mais frustrações do que alegrias é uma trajetória bastante sofrida. Não são raras as tentativas de desmentir o que se está sentindo, principalmente, pelas expectativas de realização afetiva depositadas na relação. Em algum momento pode-se chegar à conclusão de que o próprio casamento não funciona porque nunca funcionou ou porque atingiu seu fim natural. Muitas vezes, apesar de se ter uma visão clara do que está ocorrendo, adia-se qualquer tipo de decisão. “Antes de mais nada, o indivíduo começa a se sentir corroído pela dúvida e pela esperança de ter interpretado mal as coisas, apesar de seu mal-estar reiteradamente confirmar a exatidão das conclusões a que chegou. Todavia, continua a adiar uma decisão definitiva, na esperança secreta de que um milagre o faça voltar aos felizes tempos em que eram amantes e companheiros de vida.”, diz o psicólogo italiano Edoardo Giusti. 

A separação é dolorosa porque impõe o rompimento com a fantasia do par amoroso idealizado, além de abalar a autoestima e exacerbar as inseguranças pessoais. A pessoa se sente desvalorizada, duvidando de possuir qualidades. A ideia de felicidade através do amor no casamento influi diretamente na intensidade da dor na separação. Para a psicoterapeuta Ieda Porchat, além da perda da pessoa amada, na separação não é raro se perder amigos, filhos, estilos de vida. Assim as perdas criam um vazio difícil de suportar. 

Em todas as formas de separação, perda e sentimentos de vazio são fatos recorrentes, ainda que variem em qualidade e intensidade. Seja porque a pessoa foi deixada, seja porque é ela que deixa – amor, ódio, culpa, tristeza, medo, solidão, sensação de abandono, sentimento de fracasso, desorientação, quadros de estresse físico e emocional podem constituir a vida psíquica dessas pessoas longo tempo. A experiência de perda do outro na separação também é dolorosa por sofrer influência de vivências anteriores. Perdas e situações de desamparo vividas em outra época podem ser reeditadas, repercutindo sobre a perda atual. 

Fonte: http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2013/10/15/a-dor-da-separacao/