Uma pessoa conta, em geral, três
mentiras a cada dez minutos. É o que afirma o estudo realizado por Robert
Feldman, professor de psicologia da Universidade de Massachusetts, nos Estados
Unidos, e autor do livro "Quem é o mentiroso da sua vida?". A
pesquisa indica que recorrer a inverdades é questão de hábito e uma forma de
manter o bom convívio social.
O especialista em segurança
eletrônica e autor do livro "Mentira - um rosto de muitas faces",
Wanderson Castilho, reforça o coro. Segundo ele, é praticamente impossível um
ser humano viver em sociedade sem usar a ferramenta da mentira em algum momento
da vida.
"Quem diz que nunca mente
está mentindo. Há muitos motivos para mentirmos, entre eles quando somos movidos
pela vergonha ou pelo orgulho. Em outros casos, é provável que mintamos para
atenuar o impacto que a verdade teria. Ou seja, mentimos para evitar magoar
pessoas com quem nos importamos, ou para evitar situações embaraçosas",
explica o profissional, que foi o primeiro brasileiro certificado pelo
Instituto de Treinamento em Análise de Comportamento (Behaviour Analysis
Training Institute - BATI), em San Diego, EUA.
Tipos de mentira
Em seu livro, Wanderson Castilho
afirma que nos relacionamentos amorosos as pessoas mentem mais quando há
preocupação e desconfiança em excesso por parte do outro. Para ele, a
insegurança gera desconforto e dificuldade em revelar a verdade. A obra ainda
aponta que flertes e atração por outras pessoas, contatos e amizades, nível de
comprometimento, fantasias sexuais, traição, satisfação sexual e aparência
também são assuntos que o casal costuma esconder do parceiro.
Já no ambiente de trabalho, o
especialista aponta que as mentiras mais comuns são relacionadas a atrasos,
trabalhos não realizados ou aptidões exageradas.
"Realizei cerca de duzentas
entrevistas com diversos tipos de pessoas, e a partir daí estabeleci perfis e
comportamentos típicos de mentirosos. A conclusão foi que homens e mulheres
mentem na mesma proporção. Enquanto as mulheres tendem a mentir fazendo
referência a acidentes ou fatos tristes de suas vidas, os homens costumam
contar vantagens. Muitos aumentam ou inventam feitos profissionais, pessoais e
sexuais", avalia o especialista.
Há quem acredite que algumas mentiras
são necessárias para manter o convívio social. Em alguns casos, recorrer a
dissimulações pode ser considerado sinal de educação, já que muitas vezes a
verdade nua e crua tende a ser interpretada como grosseria. Inclusive existe um
termo para quando a realidade é deturpada sem malícia, são as "mentiras
brancas".
Para Wanderson, a mentira é, para
a mente humana, uma grande arma de preservação social. "Do ponto de vista
psicológico, a mentira é um ato instintivo de preservação, tal qual a dor ou a
febre são do ponto de vista fisiológico. Sem ela a sociedade entraria em
colapso. Imagine um marido que tem muitos amigos e habitualmente toma as
decisões sobre como usar o tempo livre. Se a mulher não quiser acompanhá-lo
poderá recorrer a uma desculpa qualquer, como trabalhar até mais tarde, para se
livrar do compromisso, sem magoar quem ama", exemplifica.
A mentira é aprendida na infância
As técnicas de dissimulação
geralmente são aprendidas pelas crianças desde cedo. Um exemplo é quando os
pais repreendem a frustração demonstrada pelo filho ao receber um presente que
não o agradou. Os responsáveis costumam obrigar o pequeno a agradecer, quando
notam algum desapontamento na criança. E isso pode ser considerado uma forma de
estimular a mentira social.
"Nada justifica uma mentira,
seja qual for a sua intenção. E as crianças precisam ser ensinadas a sempre a
dizer verdade. Este aprendizado acontece progressivamente ao longo da infância
e os pais são os principais mestres. Os filhos se espelham muito mais em suas atitudes
do que em suas palavras. Pais que usam sempre da verdade, que assumem a
responsabilidade por aquilo que fazem e dizem, criam filhos responsáveis e
éticos. Só se ensina aquilo que se é", aconselha Wanderson.
Reconheça uma mentira
De acordo com o especialista em
segurança eletrônica, poucas pessoas estão preparadas para identificar um
mentiroso no dia-a-dia. É preciso treinamento e prática para melhorar a
capacidade de "ler" os sinais da mentira. O profissional ensina que
para reconhecer uma dissimulação da verdade é preciso entender o comportamento
padrão da pessoa, prestar atenção no que ela diz, nos pequenos movimentos do
rosto (micro expressões faciais), no corpo e nas variações do tom da voz.
"Nosso cérebro não aceita a
negação. Quando a pessoa mente, está negando a verdade, e alguma parte da sua
expressão facial ou do corpo vai denunciá-la. Aspectos como frequência do
piscar de olhos, uso das sobrancelhas para dar ênfase a alguma parte da
conversa, posição das mãos e das pernas, rigidez do ombro, e aspecto da testa e
da boca são alguns exemplos de atitudes que podem denunciar a mentira",
ensina o especialista.
Para ajudar você a identificar um
mentiroso, Wanderson Castilho listou abaixo 8 dicas simples de observação.
Confira:
Lábios: morder ou lamber os
lábios pode ser um forte indício de mentira.
Voz: quem mente fica com as
cordas vocais mais esticadas que o normal, deixando a voz mais fina e fraca.
Para compensar, a pessoa tenta falar mais alto.
Olhar: o mentiroso desvia o olhar
enquanto conta a sua mentira e depois passa a olhar atentamente, querendo
observar se conseguiu enganar.
Secura: em função de uma reação
da adrenalina, o mentiroso fica com a garganta e boca secas, sendo comum se
engasgar ou engolir seco.
Encobrir parcialmente a boca:
traduz uma vontade de amordaçar-se. Tende a ser um gesto rápido, porque exprime
um conflito: uma parte do mentiroso não quer calar-se - e sim continuar com a
sua mentira.
Tocar o nariz: em momentos de
tensão a sensibilidade da mucosa nasal aumenta. Assim, ao mentir, o nariz coça,
embora possa ser uma sensação tão suave que mal se perceba.
Ombro: erguer levemente um dos
ombros.
Expressão facial falseada: quando
somos genuínos, usamos os músculos faciais certos para expressar uma emoção.
Num sorriso moderado e falso, não aparecem os pés de galinha, as bochechas não
são levantadas e os olhos ficam menos apertados. Num sorriso real, mais
músculos são utilizados e a pálpebra superior dobra-se um pouco sobre os olhos.
Se ainda assim não conseguiu
identificar uma mentira, experimente fazer o contrário: estimule o interlocutor
a falar a verdade. A dica é estabelecer proximidade na conversa. Segundo
Wanderson, quanto mais próximo você estiver fisicamente, mais dificuldade a
pessoa tem/astrologia/artigo.aspx?cp-documentid=33079446rá de mentir.
Fonte: http://entretenimento.br.msn.com